Morador do Morro das Pedras, Robinho utiliza sucata para fabricar suas esculturas e adornos. A infância difícil não o impediu de conquistar o sonho de ter seu próprio negócio
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Em sua loja, que também é ateliê, o artista plástico de 36 anos cria uma de suas esculturas feita de sucata
Foto: Cínthia Ramalho |
Ao chegar à Avenida Silva Lobo, no Bairro Grajaú, mesmo sem placa não é difícil encontrar apequena loja de
Robson Costa, 36 anos, artista plástico e morador do Morro das Pedras. Basta perguntar para qualquer pessoa da região pelo "Robinho" ou "Zoião" e a resposta é unânime: "o homem do ferro? É logo ali, em frente à PM".
Do lado oposto da calçada do 22° Batalhão da Polícia Militar, é possível ver no alto de um galpão de paredes cor de rosa, já descascadas, uma grande e colorida borboleta de ferro que não deixa dúvidas deque se trata da "Príncipe dos Adornos", a loja de Robson, que também funciona como ateliê. É lá dentro que ele usa a sua criatividade, característica presente desde a infância, para transformar as sucatas recolhidas de ferros velhos em grandes obras de arte. Em um velho pistão Robson enxergou um boneco. "Quando eu olhei pela primeira vez percebi de cara um nariz", conta. E do pé de uma máquina de costura antiga surgiu uma árvore. Porém, sua fama não vem apenas do trabalho como escultor, mas também de seu envolvimento com outras formas de cultura, como a música e a capoeira. "Eu tinha uma banda de hip hop e percussão, chamava ‘Show do Preto’, durou nove anos, mas acabou ano passado, por causa da falta de tempo", explica Robson.
TRAJETÓRIA O pouco tempo para a música se justifica, afinal, o artista recebe encomendas de vários buffets de Belo Horizonte, que utilizam os adornos produzidos por Robson para inovar a decoração de festas, sempre que os clientes exigem algo diferente. Além disso, o escultor é constantemente procurado para ajudar outros profissionais que não dominam as técnicas de manuseio de metais. "Têm muitos artistas quem e procuram porque não entendem da parte do ferro. Há um tempo fiz um trabalho com o Alexandre Braga, ele fez os desenhos e eu entrei com a ferragem”, conta o escultor.
A vida de Robson, entretanto, nem sempre foi assim. Quando tinha apenas dois anos, seu pai morreu em consequência do alcoolismo, deixando a mulher e os três filhos. Aos 10, começou a trabalhar catando latas na rua, depois como lavador de carros. O primeiro trabalho, em uma serralheria, foi aos 14 anos, varrendo a oficina. "Sempre morei na favela, sempre vi violência, drogas, mas nunca me interessei, sempre trabalhei desde pequenininho", diz o artista. Quando criança, Robson gostava de desenhar e inventar brinquedos. Logo que completou 17 anos começou a trabalhar na serralheria artística "Fermetal", onde aprendeu a fazer oratórios no estilo barroco.
Seu primeiro contato com aulas de arte se deu em um curso oferecido pela prefeitura da capital mineira. Ao longo do tempo, aperfeiçoou a técnica e adquiriu experiência em várias oficinas de Belo Horizonte. Há três anos, Robson Costa abriu sua própria loja de onde tira por mês cerca de R$ 3 mil."Meu trabalho significa tudo para mim, pois é de onde eu tiro meu sustento, crio meus meninos e educo eles", afirma o escultor, que é casado e tem quatro filhos. Enquanto trabalha em uma nova peça, Robson não esconde a vontade de que os filhos se interessem pelo ofício de escultor. Olhando as fotos das crianças em um quadro, feito do mesmo material das esculturas que o tornou conhecido, o artista diz que só espera o filho mais velho completar 12 anos, para começar a trabalhar em seu ateliê. "Meu filho vai trabalhar meio período comigo, porque a escola é muito importante", explica.
Robson, ou melhor, Robinho, já expôs seu trabalho no Parque Estrela D´Alva, no
Parque Lagoa do Nado, na Casa do Conde e no
Centro de Cultura da Prefeitura. Além disso, foi uns dos personagens do livro "Favela é Isso Aí", que conta a história de vários artistas que atuam nas favelas de Belo Horizonte, lançado pela equipe da
ONG que leva o mesmo nome.
PROJETOS O mais novo plano do artista é poder ensinar aos jovens da periferia a arte das esculturas de sucata. Para isso, com a ajuda do também artista plástico Alexandre Braga, criou um projeto intitulado "Oficina de Artes" que não pôde ser realizado já que não conseguiu o apoio da
Lei de Incentivo à Cultura. Sobre ensinar suas técnicas,ele explica: "tem que ter leveza,um carinho, às vezes é melhor ensinar uma criança do que um adulto que já mexe com solda, máquina, porque eles não tem delicadeza".
Quando questiona do sobre sua inspiração, responde de maneira simples, "está em tudo o que eu vejo", e afirma ser fã de
Oscar Niemeyer e do poeta Saíde de Oliveira. Robson agora tem objetivo de ampliar sua oficina para ensinar a outras pessoas seu trabalho e dar a elas a oportunidade que a vida lhe deu. "Batalhei muito para ter o que eu tenho, mas, nunca pensei que meu trabalho fosse tomar essa dimensão. Eu só procurei fazer o melhor", afirma Robinho.
Paula Hoelzle
Cínthia Ramalho
Bruna Fonseca