Quem entrou nas salas 204 e 205, da Escola Estadual Duque de Caxias, localizada no bairro Santa Helena, durante os dias 13 e 24 de outubro, certamente, não entendeu nada. Enquanto alguns alunos andavam de um lado para o outro com cadernos nas mãos, outros permaneciam concentrados com o lápis apoiado na folha de papel escrevendo em um fluxo contínuo. Esses eram incapazes de notar uma presença diferente, era preciso chamar a sua atenção.
Aquela não se tratava de uma aula de história, e pela euforia dos estudantes, com certeza não era uma aula de matemática. O mais estranho era que no meio daquela bagunça não havia um professor, mas três. Poderia se tratar de um novo método de ensino, no qual os alunos tinham liberdade para se expressar, para circular pela sala de aula divulgando as novas descobertas ou as novas criações. Essa era exatamente a impressão que um desconhecido teria ao se deparar com essas duas turmas. De fato, o objetivo era esse, mas não se tratava de um novo método de ensino, mas sim do “Pão e Poesia na Escola”.
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Os oficineiros Diovvani Mendonça e Macros Vinícius explicando o final do "Pão e Poesia na Escola" |
Após serem apresentados ao projeto, era hora de começar a colocar as idéias no papel. Durante a semana, os estudantes dedicaram duas horas do seu tempo às oficinas de criação. Nesse momento, eles eram livres para escrever sobre o que quisessem. Aqueles que precisassem de um pouco de inspiração contavam com a ajuda dos oficineiros que sugeriam alguns temas. Esse foi o caso de Arielle Santos Teixeira, aluna da quarta série do quinto ano. Enquanto participava da aula, seu dente de leite caiu, e após receber os cuidados necessários, contou com a sugestão do oficineiro e também idealizador do projeto Diovvani Mendonça e criou o seguinte poema:
“Caiu o meu dente de leite
Saiu sangue para valer
Daí saiu na minha mente
Um pingente eu vou fazer”
Arielle Santos Teixeira
A imaginação não tinha limite, e os alunos não tinham dificuldade para escrever. Qualquer assunto, qualquer objeto virava versos. Dentre as várias poesias criadas por Raniel Adriano de Souza havia uma que ele mais gostava, destinada ao seu primo. "Tenho um priminho bebê de oito meses, e ele é muito especial". Para ele, Raniel escreveu:
“Meu primo é bonitinho
Ele chama Samuel
Toda hora está virado pra cima
Para olhar o lindo céu”
Raniel Adriano de Souza
A oportunidade de ter um poema de sua autoria estampado em uma embalagem para pão, incentiva Bianca Nathália Santos, de 10 anos, a escrever mais. Para ela criar obras poéticas não é difícil, mas ela afirma que prefere produzir com a ajuda de outras pessoas. “É porque cada uma dá uma palavra, e assim vai fazendo o poema”, disse Bianca. Além disso, ela conta com o apoio dos pais, que aprovaram o projeto.
Mesmo antes do “Pão Poesia na Escola” chegar até Escola Estadual Duque de Caxias, os alunos já tinham contato com o universo literário. No caso de Carla Andressa de Jesus Pinto, o livro Poemas Avoados, de Leo Cunha não sai de sua mochila. “Eu sempre trago (o livro). Quando sobra um tempinho, ou quando eu termino de fazer as atividades eu abro ele para ler”, disse Carla. Alguns chegaram a declamar poemas, como o caso de Patrick Ferreira santos, que decorou o poema:
“Repito muitas coisas
Muitas coisas que eu sei
Só não repito meu nome
Porque meu nome nunca esquecerei
Repetir é uma coisa
Esquecer é outra
Mas mesmo que eu quisesse esquecer,
tenho um lápis para escrever”
Mesmo que as inspirações sejam diferentes, e que os poemas busquem estilos diversos, todos adquiriram gosto pela criação de poemas e afirmaram que mesmo com o fim das oficinas do “Pão e Poesia na Escola” continuarão produzindo.